domingo, 11 de maio de 2014

A poesia que é ser mãe



É passar a noite em claro e o dia virada do avesso.
É chorar, se descabelar, se olhar no espelho e não se reconhecer, tamanho o cansaço, e, ainda assim, ter folego pra rir da situação-mesmo parencendo um dragão.

É agradecer todos os dias por tudo o que a gente aprende amando incondicionalmente (e sendo amada na mesma proporção)

É respirar aliviada depois de um período de narizinho entupido.

É aprender que uma febrinha às vezes é só uma febrinha e não malária ou gripe aviária.

É esquecer o que é bunda dura.

É escovar os dentes com pomada pra assadura.

É brincar de pega-pega e fritar um briefing depois de passar a tarde discutindo um bife. Ou quase isso.

É aprender na marra que a fralda vaza e que é perigoso mergulhar em piscina rasa.

É ter que discorrer com igual habilidade sobre o desmame, o desfralde e o Descartes.

É se permitir deitar e rolar no chão, se sujar com sorvete de chocolate, ser penteada estapafurdiamente e sair com a roupa amarrotada sem se preocupar parecer (e realmente ser) ridícula.

É não saber mais o que é tirar a cutícula, pintar os cabelos, raspar os pelos.

É se assustar com o day after da salada de beterraba, ligar pro pediatra as 3 da manhã e escutar que não, não é hemorragia, mas pode ser melancia.

É quando você ta sozinha com sua filha e sabe que ninguém vai ver você dar banho na pia. Muitas vezes na da cozinha.

É botar os peitos pra fora e amamentar seu bebê na hora que ele quiser, onde ele quiser, livre demanda e os incomodados que se mandem.

É ter amnesia temporária e esquecer quando disse  "ah se fosse meu filho..." quando viu uma criança fazendo birra no shopping. Mesmo porque agora essa criança foi você mesma que pariu.

É chamar  médica de veterinária e pedir um rivotril.

É ter o direito de saber tudo sobre parto humanizado, doulas, dores, cesáreas e anestesias. 

É poder ir de pijama na padaria.

É entender de tudo um pouco e saber responder assuntos cabeludos como separação, sistema solar, o que é camisinha e porque fada usa varinha.

É se maquiar com pressa a caminho da escola, tentando esconder as olheiras com pancake. Falando em pancake, deixei as panqucas no forno- meu deus, eu desliguei o forno?-
É aceitar que “temos o mundo inteiro ao nosso redor” será a música de fundo quando seu chefe quiser fazer um brainstorm. Alternando às vezes com o “eu te amo, você me ama, somos uma familia feliz”

É limpar, com destreza, o nariz do bebê -sem ninguém perceber-na toalha da mesa.

É encolher a barriga e ignorar que você tá ficando obesa.

É ir no mercado comprar pilha usando uma coroa de princesa e só se dar conta quando a moça do caixa perguntar se você tem filha.

É abrir a bolsa pra pegar uma caneta e voar paninho, bolacha e chupeta.

É comer chocolate escondida no box. Que foi?

É pagar mico, pagar calcinha, pagar sutiã molhado de leite. É pagar pra não sair da cama num domingo as 6 da manhã.
Amor de verdade é comer só a casca e deixar pra eles o miolo do pão.

Uma mãe pode ser solteira, casada ou divorciada mas nenhuma lembra muito bem como acontece esse negócio de reprodução.

É amar, amar, amar, com sono, com febre, com reunião de trabalho, com manha, com cocô na blusa e no vestido de festa,  ranho no cabelo e um pouco na testa. Com alegria, com alergia, cansada, deprimida, com ajuda ou sem ajuda, com tpm, com pressa, com cólica, na praia, debaixo do guarda sol ou guarda chuva. 

É trocar a estação, o sim pelo não, se precocupar com a alimentação.

É comer pizza gelada e sempre ter companhia na hora de sentar privada. Uma mãe nunca mais terá paz no banheiro, fato. É abrir o chuveiro que eles abrem o berreiro.
É ser heroína e aprender a matar rato. Barata, não digo, mas escorpião, porque não?

Ser mãe é mais ou menos como embarcar numa aventura no metrô paulista. Você pega o trem na Liberdade, atravessa algumas estações subterrâneas e desce no Paraíso. E, mesmo exausta, você será capaz de ostentar um largo sorriso.

É esquecer sua antiga identidade e ver nascer uma nova pessoa, cheia de habilidades desconhecidas, medos e um amor sem tamanho que nem sonhava em existir antes do nascimento do seu rebento.
A pessoa mãe.

Feliz nosso (todo) dia!




quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Imagine all the people....


Tava aqui varrendo e tirando o pó do blog quando achei um post escondido nos rascunhos e resolvi postar porque eu realmente estou muito tchutchuca nessa foto que decidi por não postar por motivos de me proteger de possíveis processos porque é um assunto delicado.

Então que chegou aquele momento que maidiameno dia iria chegar (afogado em chororôs, manhas e dúvidas). Acompanhem:
-Quero ficar com meu pai, mas também quero ficar com você. Podemos morar todos juntos?
Ai meu miocárdio, como responder sem derrapar na curva?
Sem sambar no molhado? Sem engasgar com a noradrenalina?
Acontece que mês passado fomos para praia e lá passamos um lindo e ensolarado domingo nesse modus operandi: eu, ela, meu noivo (já contei que tô noiva? Não né? Então, tô noiva!) e meu enteado. Até aí tudo normal né? Então, estavam também o pai da Lulu e a noiva dele. Sim, todos debaixo do mesmo guarda sol e besuntados com o mesmo sundown.
Acho isso uma coisa ótima, a convivência pacifica e amigável entre todos deve fazer muito bem pra criança, mas talvez isso tenha dado um nozinho na cabeça da Lulu e ela encanou que poderíamos viver numa florida aldeia hippie woodstokiana, cheias de pelos no sovaco, onde jonh lennon tocaria Imagine enquanto almoçávamos camarão na moranga ao molho de LSD e assim, viveríamos todos juntos como uma grande família disfuncional.
Mas calma lá. Quando voltamos à terra firme, cada um no seu quadrado, naturalmente.
Mas porquê, ela me pergunta. "Porquê TEM que ser assim, mãe?"
Ela adora o padrasto e a madrasta. Ela adora os pais, claro (espero) e quer todos juntos, sempre. Natural.
E agora, lhes pergunto: como fazer ela suportar a saudade de um ou de outro  quando está longe e que isso é normal e que a vida é complexa e injusta -na maioria das vezes- e que unicórnios cor-de-rosa não existem?
Como, meu deus, explicar que no futuro a mãe vai morar só com o tio Fer e o pai vai morar só com a tia Fer  (a escolha dos respectivos noivos de codinome Fer foi proposital pra não confundir mais a cabeça dela- brinc.) sem machucar esse coraçãozinho puro e inocente? Hein? Como?

É, filha, crescer é doído e às vezes bem doido também. Mas o bônus é que todos os envolvidos te amam e isso é bem legal.