É passar a noite em
claro e o dia virada do avesso.
É chorar, se
descabelar, se olhar no espelho e não se reconhecer, tamanho o cansaço, e,
ainda assim, ter folego pra rir da situação-mesmo parencendo um dragão.
É agradecer todos os
dias por tudo o que a gente aprende amando incondicionalmente (e sendo amada na
mesma proporção)
É respirar aliviada
depois de um período de narizinho entupido.
É aprender que uma
febrinha às vezes é só uma febrinha e não malária ou gripe aviária.
É esquecer o que é
bunda dura.
É escovar os dentes com
pomada pra assadura.
É brincar de pega-pega
e fritar um briefing depois de passar a tarde discutindo um bife. Ou quase
isso.
É aprender na marra que
a fralda vaza e que é perigoso mergulhar em piscina rasa.
É ter que discorrer com
igual habilidade sobre o desmame, o desfralde e o Descartes.
É se permitir deitar e rolar
no chão, se sujar com sorvete de chocolate, ser penteada estapafurdiamente e
sair com a roupa amarrotada sem se preocupar parecer (e realmente ser) ridícula.
É não saber mais o que
é tirar a cutícula, pintar os cabelos, raspar os pelos.
É se assustar com o day
after da salada de beterraba, ligar pro pediatra as 3 da manhã e escutar que não,
não é hemorragia, mas pode ser melancia.
É quando você ta
sozinha com sua filha e sabe que ninguém vai ver você dar banho na pia. Muitas
vezes na da cozinha.
É botar os peitos pra
fora e amamentar seu bebê na hora que ele quiser, onde ele quiser, livre
demanda e os incomodados que se mandem.
É ter amnesia
temporária e esquecer quando disse "ah
se fosse meu filho..." quando viu uma criança fazendo birra no shopping.
Mesmo porque agora essa criança foi você mesma que pariu.
É chamar médica de veterinária e pedir um rivotril.
É ter o direito de
saber tudo sobre parto humanizado, doulas, dores, cesáreas e anestesias.
É poder ir de pijama na padaria.
É poder ir de pijama na padaria.
É entender de tudo um
pouco e saber responder assuntos cabeludos como separação, sistema solar, o que
é camisinha e porque fada usa varinha.
É se maquiar com pressa
a caminho da escola, tentando esconder as olheiras com pancake. Falando em
pancake, deixei as panqucas no forno- meu deus, eu desliguei o forno?-
É aceitar que “temos o
mundo inteiro ao nosso redor” será a música de fundo quando seu chefe quiser
fazer um brainstorm. Alternando às vezes com o “eu te amo, você me ama, somos
uma familia feliz”
É limpar, com destreza,
o nariz do bebê -sem ninguém perceber-na toalha da mesa.
É encolher a barriga e ignorar
que você tá ficando obesa.
É ir no mercado comprar
pilha usando uma coroa de princesa e só se dar conta quando a moça do caixa
perguntar se você tem filha.
É abrir a bolsa pra
pegar uma caneta e voar paninho, bolacha e chupeta.
É comer chocolate escondida
no box. Que foi?
É pagar mico, pagar
calcinha, pagar sutiã molhado de leite. É pagar pra não sair da cama num
domingo as 6 da manhã.
Amor de verdade é comer
só a casca e deixar pra eles o miolo do pão.
Uma mãe pode ser
solteira, casada ou divorciada mas nenhuma lembra muito bem como acontece esse
negócio de reprodução.
É amar, amar, amar, com
sono, com febre, com reunião de trabalho, com manha, com cocô na blusa e no
vestido de festa, ranho no cabelo e um
pouco na testa. Com alegria, com alergia, cansada, deprimida, com ajuda ou sem
ajuda, com tpm, com pressa, com cólica, na praia, debaixo do guarda sol ou guarda
chuva.
É trocar a estação, o
sim pelo não, se precocupar com a alimentação.
É comer pizza gelada e
sempre ter companhia na hora de sentar privada. Uma mãe nunca mais terá paz no
banheiro, fato. É abrir o chuveiro que eles abrem o berreiro.
É ser heroína e
aprender a matar rato. Barata, não digo, mas escorpião, porque não?
Ser mãe é mais ou menos
como embarcar numa aventura no metrô paulista. Você pega o trem na Liberdade,
atravessa algumas estações subterrâneas e desce no Paraíso. E, mesmo exausta, você
será capaz de ostentar um largo sorriso.
É esquecer sua antiga
identidade e ver nascer uma nova pessoa, cheia de habilidades desconhecidas,
medos e um amor sem tamanho que nem sonhava em existir antes do nascimento do seu
rebento.
A pessoa mãe.
A pessoa mãe.
Feliz nosso (todo) dia!